sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Desenvolvimento e a Aprendizagem

Aqui vos deixo um estudo que eu e a Vanessa, minha colega de estágio, realizámos na faculdade, acerca do Desenvolvimento e Aprendizagem na Segunda Infância (i.e. dos 3 aos 6 anos). Obrigada Vanessa, pelo consentimento :D Beijinhos
Utilizem isto como recurso, mas tenham cuidado com os plágios, podem arruinar o vosso percurso académico.
O Desenvolvimento na Segunda Infância
“O desenvolvimento consiste num conjunto de transformações físicas, fisiológicas e psicológicas da criança desde o seu nascimento até à morte. Cada criança tem o seu próprio ritmo de desenvolvimento, desenvolvendo-se de forma diferente de outra criança da mesma idade”.[1] Assim, consideramos importante conhecer essas transformações de modo a perceber os vários níveis do desenvolvimento da criança, para lhe podermos proporcionar as mais adequadas oportunidades de aprendizagem, contribuindo para um desenvolvimento equilibrado e harmonioso.
O Desenvolvimento Cognitivo
A Idade pré-escolar corresponde a “um período com características bem demarcadas no processo de desenvolvimento e que Piaget chamou de pré-operatório."[2]
Segundo Piaget[3], as crianças em idade pré-escolar (3-6 anos) encontram-se no segundo estádio do desenvolvimento cognitivo: o estádio pré-operatório (2-7 anos). É nesta etapa que se destaca o pensamento simbólico (pensar em algo sem ter que o ver) juntamente com o jogo simbólico, que permite reflectir mentalmente sobre coisas ou pessoas e a compreensão causa-efeito estimula as crianças a questionarem tudo o que as rodeia (habituam-se a perguntar “porquê?” em qualquer assunto que lhes suscite curiosidade), há também necessidade de classificar as coisas em conjuntos com significado (gosto/ detesto; grande / pequeno), e começa a fazer sentido a contagem, pois já se nota uma compreensão do sentido de número.
Piaget defende que, neste estádio, a criança mostra-se egocêntrica, só vendo o mundo aos seus olhos, no entanto Hughes (1975)[4] contrapõe esta teoria dizendo que a criança tem capacidade para conseguir ver o mundo do ponto de vista de outrem desde que o educador proporcione experiências que estejam dentro do seu quotidiano (a investigação confirmou o erro de Piaget).
A nível linguístico, podemos começar por dizer que o meio estimula a criança a fazer perguntas sobre tudo o que se passa à sua volta. À medida que vai fazendo questões aperfeiçoa a sua linguagem.
Neste período, uma criança aprende em média, cerca de nove palavras por dia. Isto é possível devido ao mapeamento rápido, ou seja, quando ela entende o significado de uma nova palavra após a ter ouvido uma ou duas vezes. Também é usual ouvir as crianças usarem metáforas, aplicando uma frase usada num determinado contexto num noutro a que ela atribui algumas semelhanças.[5]
“As crianças sabem que as palavras e as imagens contêm um significado, e que um texto é lido da esquerda para a direita, de cima para baixo.”[6]Aos três anos, é comum elas usarem plurais, verbos no pretérito passado e fazerem distinção entre sujeitos (eu, tu, nós). Aos quatro/cinco anos surgem as frases compostas por aproximadamente cinco palavras, incluindo proposições; e só a partir dos seis anos é que o discurso se torna mais complexo e longo, contendo frases compostas.
É normal que as crianças, assim que compreendem uma regra linguística, a generalizem, daí ouvirmos muitas vezes o “fazi” em vez do “fiz”, com a correcção do adulto ela compreenderá que existem excepções.
É natural que uma criança que convive com pessoas que têm um código linguístico elaborado, também o use, pois é o modo natural de comunicar no seu ambiente. Já as crianças cujos pais têm um código linguístico mais restrito vão adquirir os hábitos da família e dialogar como o meio onde está inserida (note-se que o uso do código elaborado e código restrito nada tem a ver com a inteligência das crianças).
Independentemente do código linguístico, pode existir um discurso interno, bastante comum entre as crianças, sendo normal encontrarmo-las a cantarolar, fazer sons ou até a falar consigo mesmas.
Tanto Piaget como Vygotsky[7] acreditavam que “pensar em voz alta” fosse uma boa forma das crianças transformarem o seu pensamento em palavras. Vygotsky diz ainda que à medida que as crianças conseguiam estruturar o seu pensamento silenciosamente, deixariam de falar para si próprias.
Deve haver especial atenção aos casos de crianças que apresentam um atraso no desenvolvimento da linguagem, pois este problema requer ajuda especializada de modo a evitar graves consequências a nível cognitivo, emocional e social.
No decorrer dos séculos XX / XXI, a investigação tem-se dedicado também ao estudo da memória das crianças até aos 5 anos, e descobriu que a criança vai adquirindo competências de reconhecimento (identificar um objecto, pessoa ou situação com o qual já teve contacto anteriormente) e de evocação de um item com o qual já está familiarizada.
Na segunda infância surge uma forma de memória mais forte que é a recordação, isto é, a criança consegue recuperar informação previamente armazenada na memória. Apesar de à medida que for crescendo, ela se esquecer dos acontecimentos mais antigos e menos significativos, tem capacidade para mencionar muitas recordações mesmo que tenham passado meses desde o dito acontecimento, especialmente se tal for tema de conversa por parte das pessoas que a rodeiam. O crescimento da criança pressupõe o esquecimento dos acontecimentos ocorridos antes dos três anos, ao qual se dá o nome de amnésia infantil.
A memória e a linguagem da criança podem ser afectadas pela inteligência da mesma. Hoje em dia é possível realizar testes para calcular o QI das crianças como forma de lhes disponibilizar actividades que se ajustem a si mesmas. Assim, as crianças são motivadas com actividades que estão ao seu nível e continua a ser-lhe exigido esforço e compreensão para que ela possa aprender.
É importante que não nos esqueçamos de uma grande capacidade das crianças desta faixa etária. Na segunda infância, elas são dotadas de um grande nível de criatividade que não deve ser contestado nem aprisionado entre os limites da folha de papel. Jessica Davis[8], no seu estudo sobre o U-Shapped Development concluiu que, a nível artístico, o desenvolvimento estético de uma criança na segunda infância encontra-se a par com os profissionais da arte. Desde que é “obrigada” a dar realismo aos seus desenhos e tem que seguir com certos referentes, o seu nível artístico reduz.
O Desenvolvimento Físico
A nível fisiológico, a criança aos três anos torna-se mais comprida e esguia e perde a face redonda característica dos bebés, os músculos abdominais desenvolvem-se e a barriga começa a diminuir. Os rapazes costumam ser ligeiramente mais pesados e têm mais massa muscular que as raparigas. Durante a idade pré-escolar, as crianças crescem aproximadamente 5 a 8 cm por ano e ganham 2 ou 3 quilos no mesmo período de tempo.
A criança tem um sono mais profundo que na primeira infância, dorme geralmente a noite toda e descansa umas horas durante a tarde. É frequente que, nestes momentos, as crianças recorram a objectos transaccionais[9].
É devido a muitas horas de sono e descanso que os ossos que crescem fortes e mais rapidamente que nunca, permitindo que os primeiros 20 dentes estejam no lugar por volta dos 3 anos.
A alimentação deve ser equilibrada, a criança deve habituar-se a comer todos os alimentos que se encontram na Nova Roda dos Alimentos, e respeitar os horários das refeições, para que cresça saudável e se reduzam os riscos de obesidade. Há que ter em conta que as crianças nesta idade comem menos que anteriormente, pelo que não é aconselhável que seja obrigada a comer de mais.[10]
Neste período, a enurese (molhar a cama) é comum (mesmo em crianças de seis anos), especialmente durante o sono, no entanto, é geralmente ultrapassada sem ajuda especial.
Relativamente à motricidade infantil, na segunda infância o desenvolvimento motor não é tão eVidente como anteriormente, a criança está numa fase em que precisa de um tempo para ser activa e movimentar-se ao seu próprio ritmo.
Por norma, as crianças com três anos já têm tendência a pegar o lápis ou a colher com a mão esquerda ou direita (lateralidade). A preferência da criança não deve ser contrariada, pois esta escolha ocorre por razões cerebrais.
Notam-se grandes progressos a nível de motricidade fina e a coordenação óculo-manual é aperfeiçoada, embora existam algumas actividades em que aparentam dificuldade em coordenar as destrezas finas.
Por volta dos três anos a criança consegue caminhar na ponta dos pés, correr suavemente, caminhar sobre uma linha recta, caminhar grandes distâncias de costas, subir escadas alternando os pés e desce-as colocando os dois pés em cada degrau apoiando-se no corrimão ou na parede. Possivelmente ainda perde o equilíbrio ao dar cambalhotas, já salta com ambos os pés a uma pequena distância, atira uma bola com as duas mãos apesar do corpo permanecer fixo, e agarra a bola com as duas mãos esticadas. Não há dificuldades em andar de triciclo, calçar os sapatos, desabotoar botões (se estes forem acessíveis) e também já consegue ir a WC sozinha, embora possa precisar de ajuda para se compor.
Aos três anos e meio a criança passa por um período atribulado, ficando com medo de coisas que antes não lhe assustavam (ex.: escuro), para além deste aspecto, é normal que tropece e caia frequentemente. Entre os três anos e meio e os quatro, ela aprende também a ajustar os seus comportamentos aos dos outros, adaptando-se, tornando possível a brincadeira com outra criança. Já consegue correr em linha recta e saltar a uma maior distância que anteriormente, coordena melhor várias partes do corpo ao mesmo tempo, salta num só pé, sobe e desce as escadas alternando os pés, apanha a bola com confiança e quando a lança todo o corpo se ajusta ao movimento. Já maneja o lápis, tesoura e pincel com facilidade, mas ainda é difícil recortar figuras pequenas.
Aos cinco anos corre com largas passadas, pernas estendidas e os braços acompanham os movimentos do corpo; salta e desce longas escadas em pés alternados, agarra bolas de diversos tamanhos com os cotovelos junto ao corpo, e ao atirar a bola já possui uma postura adulta. Consegue saltar e correr a uma distância de 70 a 90cm, e salta facilmente num só pé a uma distância de 5 metros. Aos cinco anos e meio está pronta para aprender a andar de bicicleta e de realizar outras actividades que exijam mais equilíbrio e maior domínio corporal. Por este motivo, o desenvolvimento artístico não deve ser separado do motor, pois está directamente relacionado com a motricidade fina.
Segundo Rhoda Kellogg (1970)[11], por volta dos três anos e meio, a criança atinge o nível da forma, pelo que começa a desenhar formas básicas tais como o círculo, quadrado, rectângulo, triângulo, cruz, X e outras formas irregulares.
O Desenvolvimento Psicossocial
O auto-conceito é a imagem que a criança tem de si própria. É o reconhecer-se nas fotografias e filmes, e conseguir-se auto-definir, descrevendo-se a si mesma enumerando diversas características suas.
Segundo Erikson, esta é a fase de iniciativa versus culpa, ou seja, as crianças têm vontade de realizar determinada acção mas já têm em mente se esse acto é “bom” ou “mau”. A concretização ou não dessa mesma acção dependerá de imensos factores, entre os quais a auto-estima, isto é, o julgamento que a criança faz sobre si mesma, e está dependente do apoio dos pais e do modo como estes acreditam nas capacidades do seu filho.
No estádio pré-operatório (de Piaget), as crianças começam a compreender as diferenças entre meninos e meninas não só a nível físico, mas também a respeito de papéis sociais (consciência de género). As atitudes advêm da sociedade onde as crianças estão inseridas, da própria família e do papel de cada elemento que faz parte dela.
“A partir dos 3 anos tanto os rapazes como as raparigas demonstram uma grande capacidade simbólica, por exemplo quando brincam às cozinhas e tentam reproduzir momentos da vida familiar.”[12] Como pudemos ver ao longo desta pesquisa, o jogo é uma das principais formas das crianças aprenderem e de se desenvolverem a nível cognitivo, linguístico, motor e psicossocial, e também uma boa forma das crianças interiorizarem as regras e papéis sociais e aprendem a agir de acordo com as circunstancias.
No jogo, a criança tem tendência a imitar os adultos ou colegas mais velhos, ao fazê-lo está a aprender. Mesmo que ela brinque acompanhada, a criança joga por si e para si, à medida que o tempo passa, os seus jogos tendem a ser cada vez mais sociais e cooperativos, jogando simbolicamente e ao faz-de-conta.

Aprendizagem na Segunda Infância
“É fundamental proporcionar às crianças os meios adequados e ocasiões para que possam adquirir as aprendizagens essenciais”[13] isto porque a criança aprende fazendo. É importante dar à criança um papel activo, em que ela interage com os objectos experimentando-os e explorando as suas propriedades, pois ela beneficiará de mais momentos significativos que, consequentemente, proporcionam mais aprendizagens. Estas também podem ser criadas a partir da imitação das acções dos adultos e de crianças mais velhas. Tal como diz Vygotsky, “as crianças aprendem através da internalização dos resultados das suas interacções com adultos”[14], ou seja, as crianças aprendem pela interacção com os outros, deste modo, elas podem partilhar ideias, observar comportamentos, e também melhorar a linguagem, já que esta é o meio de comunicação que mais utilizam.
Segundo Skinner, uma das formas das crianças aprenderem os limites é através dos castigos e recompensas. Se a criança os aceitar, o educador e pais podem negociar com elas de modo a chegarem a acordos.
Os defensores da educação progressiva e os cognitivo-desenvolvimentalistas, como Jean Piaget (1969) e John Dewey (1963) vêem a aprendizagem como uma mudança gradual através de uma série de estádios ordenados e sequenciais no desenvolvimento. Para que este possa ocorrer, é necessário que se produza um conjunto de aprendizagens, por exemplo, para a criança desenvolver a noção de número, é preciso que primeiro aprenda a contar, seriar, etc, pois só quando o consegue fazer é que toma consciência do conceito de número.
O processo da aprendizagem é entendido como uma inter-relação entre as acções da criança, orientadas para um objectivo, e as realidades ambientais que afectam essas acções.
A aprendizagem pela acção é definida como a aprendizagem na qual a criança através da sua acção sobre os objectos e da sua interacção com pessoas, ideias e acontecimentos, constrói novos entendimentos. Pois mais ninguém consegue ter experiências pela criança ou desenvolver conhecimentos por ela.
A aprendizagem pela acção depende do uso de objectos que, no mundo da criança, são essencialmente brinquedos e jogos.[15] “ O valor do jogo na educação e especialmente na educação infantil é infinito, mas será o educador o encarregado de o saber aproveitar e tirar o máximo partido da aprendizagem das crianças”[16] Muitos brinquedos ensinam a criança a distinguir formas e cores, a observar as semelhanças entre objectos, a ampliar o vocabulário entre outras capacidades.
Hoje em dia, o educador tem poder de criar situações de aprendizagem que vão além dos limites da sala de actividades. O facto de estar continuamente a avaliar as capacidades e necessidades das crianças obriga-o a reformular os seus projectos e Propostas na sala. Estes podem ser preparados com mais facilidade, baixo custo e sem haver necessidade de estudar o tema “in loco”, um computador com material bem preparado pela Educadora transpõe as crianças para a realidade em questão, sem custos de transportes nem tempos de viagem. Podemos então dizer que as novas tecnologias (TIC) estão a transformar o mundo que nos rodeia, a nossa forma de trabalhar, de viver, de adquirir conhecimento e de proporcionar momentos de aprendizagem.

[1] RODRIGUES, Luís, Psicologia 12º Ano – O Essencial para os Exames, Plátano Editora, 1ª Edição, 2005, pag. 58.
[2] http://www.crmariocovas.sp.gov.br/inf_a.php?t=001 consultado em 18.03.2008
[3] PAPALIA, Diane; OLDS, Sally W.; FELDMAN, Ruth D.; O Mundo da Criança; Publicações McGraw-Hill; 8ª Edição, Lisboa 2001, pag. 312.
[4] PAPALIA, Diane; OLDS, Sally W.; FELDMAN, Ruth D.; O Mundo da Criança; Publicações McGraw-Hill; 8ª Edição, Lisboa 2001, pag. 317.
[5] Idem pag. 322.
[6] CARDOSO, Maria Antónia; ” A linguagem Oral e Escrita e as múltiplas Aprendizagens no jardim-de-infância”, Ourém, 2006.05.
[7] PAPALIA, Diane; OLDS, Sally W.; FELDMAN, Ruth D.; O Mundo da Criança; Publicações McGraw-Hill; 8ª Edição, Lisboa 2001, pag. 324.
[8] http://www.eric.ed.gov/ERICDocs/data/ericdocs2sql/content_storage_01/0000019b/80/13/e9/78.pdf - consultado a 29.03.2008
[9] Objectos usados repetidamente por uma criança, especialmente como companheiro ao deitar.
[10] FELICIANO, Elsa; “Alimentação Saudável”, Conversas Com Pais, Torres Vedras, 07.03.2008
[11] PAPALIA, Diane; OLDS, Sally W.; FELDMAN, Ruth D.; O Mundo da Criança; Publicações McGraw-Hill; 8ª Edição, Lisboa 2001, pag. 290.
[12] BORRÀS, Lluis; Manual de Educação Infantil – Recursos e Técnicas para a Formação no Século XXI, Volume I, Marina Editores, 1ª Edição, Amadora Setembro, 2002, pag. 21.
[13] BORRÀS, Lluis; Manual de Educação Infantil – Recursos e Técnicas para a Formação no Século XXI, Volume I, Marina Editores, 1ª Edição, Amadora, Setembro, 2002, pag. 15.
[14] http://www.crmariocovas.sp.gov.br/inf_a.php?t=001 – consultado a 18.03.2008
[15] HOHMANN, Mary; WEIKART, David, Educar a Criança, Fundação Calouste Gulbenkian, 4ª Edição, Lisboa, 2007, pag. 21 e 22.
[16] BORRÀS, Lluis; Manual de Educação Infantil – Recursos e Técnicas para a Formação no Século XXI, Volume II, Marina Editores, 1ª Edição, Amadora, Setembro, 2002, pag. 246.

Um comentário:

  1. Olá!
    Quando eu tirei o meu curso de Educação de Infância e pesquisava assuntos relacionados ao curso pouco ou nada se encontrava por estas bandas da net... o que havia era tudo brasileiro. Fico feliz por verificar que já não é assim. Acho bastante importante a troca de informações, ideias e o espírito de ajuda entre todos.
    Espero que este espaço tenha continuidade...

    Beijinhos

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